DIABETES
MELLITUS E ATIVIDADE FÍSICA
Por Fernanda Oliveira
Magalhães
Bom dia, meu nome é Fernanda Magalhães, sou médica - endocrinologista (residente na cidade de Uberaba MG) o que é uma de minhas paixões. Dentro da Endocrinologia, me especializei em um assunto muito falado e também muito importante que é a DIABETE.
Já matando uma curiosidade de muitos .... Diabete ou Diabetes?
Bem, existem quatro formas corretas de escrita da palavra: o diabete, o diabetes, a diabete e a diabetes. Podemos utilizar qualquer uma dessas palavras quando quisermos referir a doença. A palavra diabete tem sua origem na palavra grega diabétes. É um substantivo comum de dois gêneros, apresentando a mesma forma, quer no gênero feminino, quer no gênero masculino (o diabete/a diabete). Além disso, é aceitável ser escrita com s no final, mesmo sendo apresentada no singular (o diabetes/a diabetes).
Esta é a primeira vez que escrevo para o BLOG da Fisio Prime para esclarecer sobre o tema DIABETES MELLITUS E ATIVIDADE FÍSICA. Espero que vocês gostem!
O diabetes mellitus é um doença muito comum, que tem
aumentado sua prevalência nos últimos anos. É caracterizada pelo aumento de
glicose (açúcar) no sangue, com deficiência na sua utilização. O numero de indivíduos diabéticos esta
aumentando em virtude do crescimento e do envelhecimento populacional, da maior
urbanização, da crescente prevalência de obesidade e sedentarismo, bem como da
maior sobrevida de pacientes com a doença. Estima-se que hoje, no mundo, mais
de 380 milhões de pessoas vivem com esta doença, sendo que cerca de 30-40%
estão sem diagnóstico.
Sabemos que a atividade física faz parte do
tratamento e prevenção do diabetes mellitus. O exercício atua na prevenção do DM, principalmente nos
grupos de maior risco, como os obesos e os familiares de diabéticos. Atividade
física é considerada como um movimento corporal não planejado, ao passo que o
exercício corresponde ao movimento corporal estruturado e planejado. Exercício
aeróbico consiste em um movimento rítmico, repetido e contínuo de diversos
grupos musculares por, pelo menos, dez minutos, por exemplo, fazer uma
caminhada, andar de bicicleta, nadar. Já o exercício resistido consiste em
atividades que usam força muscular para mover um peso ou uma força contrária,
por exemplo, musculação.
Sabemos
que diabéticos apresentam menor condição aeróbica, menos força muscular e menos
flexibilidade do que seus pares da mesma idade e sexo sem a doença. No
tratamento do diabetes podemos destacar que o exercício físico é um importante
aliado, atuando sobre o controle da glicose e sobre outros fatores, como a
hipertensão e a dislipidemia, e reduzindo o risco cardiovascular. Além do mais,
o exercício físico atua de forma específica sobre a resistência insulínica,
independentemente do peso corporal. A resistência insulínica, é característica
dos diabéticos tipo 2 (90% dos diabéticos), aqueles que geralmente iniciam a
doença na fase adulta e tem associação com obesidade, ou obesidade abdominal
(cintura abdominal > 88 cm nas mulheres ou > 102 cm nos homens).
Pelo
caráter multissistêmico e agressivo do diabetes, recomendam-se avaliações periódicas
do diabético que se exercita, as quais deverão contemplar os principais
sistemas comprometidos, incluindo avaliações cardíaca, vascular, autonômica,
renal e oftalmológica. O teste de esforço está indicado a pacientes diabéticos
que queiram iniciar um programa de exercício de moderada a alta intensidade.
Qual o
tipo de exercício que deve ser realizado, após a avaliação multissitêmica?
Exercícios aeróbicos envolvendo grandes grupos musculares, como, por exemplo,
caminhada, ciclismo, corrida, natação, dança, entre outros, podem ser
prescritos de forma constante/contínua (a mesma intensidade) ou intervalada
(alternando diferentes intensidades de exercício). Aquecimento e desaquecimento
são fundamentais. Exercícios de resistência/fortalecimento muscular devem ser
incluídos no plano de atividades, já que eles provocam elevação da
sensibilidade da insulina de maior duração, mediado também pelo aumento da
massa muscular. Exercícios de flexibilidade também devem ser contemplados, pois
há redução da flexibilidade pela ação nociva do aumento da glicose crônica
sobre as articulações, além da decorrente do envelhecimento.
Quanto à
frequência, a recomendação mais atual para a população em geral é de exercícios
aeróbicos diariamente ou na maioria dos dias da semana. Para os diabéticos a recomendação
de atividade aeróbica diária, ou pelo menos a cada 2 dias, é reforçada para que
os benefícios sobre o metabolismo glicídico sejam alcançados. Quanto à duração
a recomendação mais atual para diabéticos é de 150 minutos de exercícios de
moderada intensidade por semana ou 75 minutos de exercícios de alta intensidade
por semana ou uma combinação de ambos.
Recomendações
da Sociedade Brasileira de Diabetes:
• Procure se exercitar diariamente, de preferência
no mesmo horário.
• Acumule 150 minutos de
exercício de moderada intensidade ou 75 minutos de exercício de alta
intensidade, ou uma combinação dos dois.
• Prefira o horário da
manhã (evitar hipoglicemia noturna).
• Exercícios de
fortalecimento muscular devem ser incluídos pelo menos 2-3 vezes na semana.
• Exercícios de
flexibilidade/alongamento devem ser realizados diariamente.
• Procure realizar
exercícios de maior intensidade pelo menos 1-2 vezes na semana,
preferencialmente com algum grau de supervisão.
• Leve sempre cartão de
identificação de diabético, contendo número de telefone e nome da pessoa a ser chamada
em caso de emergência e a relação de medicamentos em uso.
• Informe aos
profissionais que o estão supervisionando/orientando e aos seus parceiros de
exercício físico sobre sua condição clínica.
• Tenha sempre
carboidrato de rápida absorção disponível.
• Controle a glicemia
capilar pré e pós-exercícios ao iniciar um programa de exercício e sempre que houver
mudança na intensidade, volume ou modalidade de um exercício físico.
• Se glicemia capilar
< 100 mg/dl,
ingira 15 g a 30 g de carboidrato antes do exercício.
• Evite se exercitar se
glicemia capilar > 250 mg/dl.
• Atenção com a
hidratação – não espere ter sede. Beba líquidos frios (200 ml a cada 30 minutos de exercício).
• Caso faça uso de
insulina, não a injete próximo a áreas de grandes grupamentos musculares que
serão usados durante o exercício (p. ex., não injete insulina na coxa se pretende
pedalar).
• Reduza em 30% a 50% a
dose de insulina regular ou de rápida absorção quando esta for usada 1 a 3 h
antes do exercício.
• Avalie com seu médico
a necessidade de redução dos medicamentos em uso ao iniciar um programa de
atividade física ou ao aumentar a intensidade dos exercícios.
• Reponha carboidratos
no exercício prolongado.
• Atenção nos cuidados
com a vestimenta, calçados e meias desportivas.
• Verifique
habitualmente os pés, procurando identificar pequenas bolhas e/ou feridas, que
deverão ser rapidamente tratadas.
• Evite mudanças bruscas
de posição corporal, principalmente se já tiver disautonomia diabética.
• Aquecimentos e volta à
calma são importantes, principalmente nos pacientes que já tenham disautonomia diabética.
• Valorize a ocorrência
de sinais e sintomas anormais durante o exercício físico.
• Na presença de retinopatia
diabética, evite situações nas quais a manobra de Valsalva é comum, como o
levantamento de cargas pesadas e exercícios com impacto.
• Sempre que possível,
controle a intensidade do exercício com frequencímetro – monitores de
frequência cardíaca.
• Evite aumentos
inesperados da intensidade ou duração do exercício (maior risco de desenvolver
hipoglicemia).
• Evite a menor ingestão
de alimentos ou maior intervalo de tempo entre a refeição e o exercício.
• Não se exercite após
consumo de álcool ou na vigência de distúrbios gastrointestinais como diarreia
ou vômitos.
• Não se exercite em
temperaturas ambientes extremas.
• Evite se exercitar ao
ar livre à noite, principalmente em locais com risco
de acidentes (menor
visão noturna).
• Não se exercite na presença
de quadro infeccioso.
• Evite exercícios nos
quais a intensidade e a duração são previamente difíceis de prever ou, ainda,
em esportes radicais (maior liberação de adrenalina, com maior risco de
hipoglicemia, e consequente prejuízo da capacidade cognitiva e risco
potencial de vida).
• Evite atividades de
impacto, como corrida e caminhadas prolongadas na presença de neuropatia
periférica.
REFERENCIAS:
SBD
– Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes 2014-2015
Ramalho ACR; Soares S - O Papel do Exercício no Tratamento do Diabetes
Melito Tipo 1. Arq Bras Endrocrinol Metab 2008; 52/2.